segunda-feira, 30 de março de 2015

Sábado da aleluia: Judas a serem malhados



      No Sábado de Aleluia, um dia antes da Páscoa é realizada a tradicional queima do Judas. Um boneco de tamanho humano, feito de palha, jornais... é levado pelas ruas, para ser mal tratado, ridicularizado, enforcado e finalmente queimado.

        Na minha infância, na sexta-feira da paixão, um grupo de pessoas apareciam em casa para acordar meus pais e pedir galinhas para a festa da aleluia. Traziam o  Judas, um boneco horrível, que representava um ser muito detestado, carregado de culpas e de pecados. As crianças diziam que ele era o Coisa Ruim ou algo deste gênero. Era coisa que não entendia bem, mas tinha muito medo do Judas. Ele apanhava porque merecia, era um traidor, segundo os protagonistas do ritual. Entretanto, acompanhava os que roubavam as galinhas, depois da  meia-noite de sexta-feira da Paixão. Nada disso me parecia certo ou do bem.

        Mais tarde aprendi que a cerimônia representava a morte de Judas Iscariotes, que traiu Jesus Cristo, com um beijo na face.  Descobri que na realidade o verdadeiro Judas nem fora queimado. Isso evidenciava que havia outros significados para a história do Judas. Na antiguidade os povos faziam  bonecos  e elegiam coisas ruins, que não gostavam, para serem queimadas simbolicamente na figura dele. Essas cerimônias antigas foram absorvidas e depuradas pelo cristianismo. A atual "Queima do Judas" é o que resta desses rituais, que ao evoluir com o decorrer dos tempos, e por ingênua deformação, resultaram na forma, tal qual hoje se apresenta.



    Na melhor tradição latina a cerimônia não começa antes de se escolher a personalidade da comunidade, estado ou país que seja considerada por suas  ações uma ameaça à sociedade e que seja merecedora de protestos, agravos e escárnios.



         Como se vê na ilustação que circula através das redes sociais, no sábado que vem o povo brasileiro teria mil razões para celebrar a tradição, elegendo  Judas para ser ridicularizado e queimado simbolicamente, já que não será fácil alcançar os judas que elegemos e que tanto mal fazem à população. Não há nenhuma dúvida de que o povo já escolheu os seus candidatos a Judas, pelos seus atos. Seriam eles os administradores mal intencionados, mentirosos, corruptos, os agentes públicos que se enriquecem na sua função, os responsáveis pelo mensalão, pelo petrolão, os causadores da inflação, que afinal deveriam literalmente serem "torrados" de uma só vez porque nos fazem tanto mal.

          Bom seria também aproveitar o momento para queimar o Judas que representa nossos defeitos, como o egoísmo, a vaidade, a ganância e dar pelo menos uma chamuscada no Judas que simboliza o consumismo irracional, que agrava a situação do planeta, na medida que contribui para esgotar os recursos naturais, poluir as águas e degradar o meio ambiente.

            Que a Semana Santa sirva para reflexões sobre a vida: a de Jesus Cristo, a nossa própria, de nossos filhos, netos e sobre o futuro da nação, que deverá abrigar ou sustentar as próximas gerações.

             Mas, não deixe de malhar o Judas.

                         Boa Páscoa a todos!
                

quinta-feira, 5 de março de 2015

Força Tarefa - uma ação emergencial e providencial



Nos dois primeiros meses de 2015,  na nossa Quirinópolis, foram registrados 18 homicídios para uma população de cerca de 50 mil habitantes.  A cidade mais violenta do planeta é San Pedro Sula, em Honduras, onde são registrados anualmente 187 assassinatos a cada grupo de 100 mil habitantes.
         
Fazendo-se as devidas contas, Quirinópolis, mantida a média dos dois primeiros meses de 2015, chegaria a registrar 108 homicídios, ou seja, 216 homicídios se tivesse 100 mil habitantes. O que significa dizer que seria a cidade mais violenta do mundo, acima da média da cidade hondurenha e muito acima da cidade mais perigosa do Brasil, que é Maceió, onde ocorrem 80 homicídios por 100 mil habitantes por ano.

Tal como em San Pedro Sula, Maceió  ou  em todo Continente Sul Americano, o mais perigoso do mundo, os ingredientes do crime parecem ser similares: a dinâmica do tráfico das drogas, com suas bocas de fumo e acertos de contas entre traficantes e destes com os usuários inadimplentes; os conflitos interpessoais, as mortes por vingança, a falta de controle das armas e das munições, que são  incentivados pela impunidade dos criminosos em decorrência da falta de investigação, da frouxidão no modo de atuar das polícias civil e militar e da dissintonia entre as mesmas, além da conhecida lentidão da justiça. Entre as piores causas da criminalidade, portanto,  estão  a ausência de investigação ou a investigação mal feita e a consequente falta de esclarecimento dos crimes. Em razão deste fato, a justiça vem levando a culpa, por não poder segurar o bandido, quando a  investigação é mal conduzida.

A  Força Tarefa é uma reação do governo estadual ao agravamento da situação de segurança no município, em atenção aos insistentes pedidos das lideranças políticas e empresariais da cidade, encaminhados através do prefeito Odair Resende.

Foi preparada com a participação de policiais militares de altíssimo nível ao lado de novos e qualificados delegados. Atuando em conjunto fazem um trabalho que merece aplausos. Eles conhecem as falhas do sistema de combate ao crime. E fazem a diferença ao atuar, sem maiores incidentes e com muita eficiência.  Por certo, este esforço integrado temporário deixará resultados promissores. 

Sabe-se que as pessoas assassinadas são jovens com menos de 30 anos e são vítimas de uma série de fatores, entre eles especialmente a crise por que passa a família, assunto que demanda outro tipo de discussão e de tratamento. 

A Força Tarefa tem uma missão emergencial e providencial da maior importância que, por certo, cumprirá no curto prazo, qual seja a de devolver a Quirinópolis a condição de um lugar de paz. A chegada de mais juízes deverá consolidar o trabalho atual. É o que se espera.